sábado, 28 de janeiro de 2012

Jornal dos Vales - notícias: II Fórum Social Missões

Jornal dos Vales - notícias: II Fórum Social Missões: Sociedade indígena é modelo de autonomia A origem do Rio Grande do Sul está no seu povo guarani, cujos hábitos foram praticamente extintos j...

IV FÓRUM SOCIAL MISSÕES

Convite especial:
Durante o IV FÓRUM SOCIAL MISSÕES, a ser realizado em Santo Ângelo, durante os dias 29, 30 e 31 de março de 2012, teremos uma mesa sobre a temática indígena. Trata-se da Conferência - Povos Indígenas: Territorialidade e Cultura, com a presença de:

Jorgelina Duarte- JACHUKA RETE- Promotora Territorial del INAI (Instituto Nacional de Assuntos Indígenas)- TEKOA TAMANDUÁ-Argentina
Ariel Ortega- KUARAI POTY – Cacique TEKOÁ KOENJU, cineasta indígena
Patrícia Ferreira – KEREXU RETE – professora bilingue -TEKOÁ KOENJU
Bruno Ferreira -Professor e Historiador Kaingang, Especialista em Educação, Diversidade e Cultura Indígena -EST/São Leopoldo

Mediadora: Bedati Aparecida Finokiet – Docente UFFS, Doutoranda em Antropologia Social UNaM.
Data: 30 de Março de 2012 - Prédio 5 -URI -Santo Ângelo
Horário:10horas.

sábado, 12 de novembro de 2011

I SEMINÁRIO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DA UFFS - CAMPUS CERRO LARGO

GRUPO INTERNACIONAL DE CAPOEIRA RECÔNCAVO E CIA BURZUM SERÃO AS ATRAÇÕES CULTURAIS DO I SEPE DA UFFS - CAMPUS CERRO LARGO/RS:

Abertura do I SEPE:
- Apresentação do GRUPO INTERNACIONAL DE CAPOEIRA RECÔNCAVO - Mestre Wladimir Farias
- Apresentação da acadêmica Maria Angelita Ribas: Música "O Mundo", através da Linguagem de Sinais.
Dia 17 de novembro (quinta-feira)
Local: Auditório
Horário: 8horas


Encerramento do I SEPE:
- Apresentação da COMPANHIA DE ARTES CIRCENCES BURZUM
Dia: 18 de novembro (sexta-feira)
Local: Auditório
Horário: 17 horas

Red de Educación Superior Indígena de Misiones: Oportunidades educativas para jóvenes de la Comuni...

Red de Educación Superior Indígena de Misiones: Oportunidades educativas para jóvenes de la Comuni...: El día 18 de febrero de 2011 a las 10 hs, se ha desarrollado una reunión en la Municipalidad de Oberá para tratar la situación de la demanda...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

SABEDORIA GUARANI


O Guarani é um grande conhecedor da Ka’aguy ovy que o Juruá, o
não-índio, chama de Mata Atlântica. A Ka’aguy ovy é um espaço sagrado,
é a morada de Nhanderu, o criador da vida. A destruição da Ka’aguy ovy
pelo Juruá vem sendo acompanhada por nós Guarani h
...á
muito tempo. O Yvy rupa, como chamamos o território tradicional
Guarani, vem sendo loteado e desmatado, gerando o esgotamento dos
recursos naturais da Ka’aguy ovy.   Hoje, temos acompanhado o Juruá se
mobilizando para resolver os problemas ambientais criados por seu
modelo de desenvolvimento. Para o Guarani não é novidade o que vem
acontecendo. Os Xeramoĩ, que são nossas autoridades espirituais, já nos
alertavam há muito tempo, que um dia o Juruá iria perceber as
conseqüências que suas atividades vêm trazendo ao meio ambiente. Por
causa disto a natureza vem enviando sinais em forma de secas,
enchentes, furacões e mudanças climáticas.   O mundo Juruá trata da
natureza somente como um bem capital. Nossos antepassados nos ensinaram
que os recursos da natureza devem ser usados com sabedoria. Os Juruás
que poluem os rios e derrubam as matas não estão sendo sábios porque
comprometem o equilíbrio da vida em prejuízo de todos, por isso, somos
contrários a maneira como o Juruá vem tratando da natureza.   Os
Xeramoĩ nos dizem que os animais são seres sagrados porque possuem um
ser divino dentro de si; que o Homem não pode ser dono da água porque a
água pertence a todas as formas de vida; que o Guarani deve respeitar
os animais e os rios, porque servem a Criação e fornecem o alimento de
nossas famílias. Aprendemos que a chuva que cai na Terra, enviada por
Nhanderu, vem para alimentar a vida e limpar as impurezas do mundo. A
água é parte importante de nossas cerimônias religiosas como o Yy
Nhemongarai, o batismo de nominação Guarani.   O Guarani respeita a
Criação, o Juruá ainda não aprendeu a respeitar. O Guarani contempla as
belezas da natureza, o Juruá não aprendeu a apreciar. Nossos Xeramoĩ
sempre têm nos falado que os problemas ambientais atuais não serão
resolvidos pela ciência do Juruá e sim pela consciência da obra de
Nhanderu. Para isto, nossos Xondaro, que são os guardiões da Opy, a
casa de reza, com a sabedoria transmitida por nossos Xeramoĩ, saberão
transmitir ao Juruá a forma Guarani de conviver em harmonia com a
natureza, trabalhando juntos pela preservação da Ka’aguy ovy em
benéfico da vida e de todos os povos.

Entrevista a Ana María Gorosito Kramer

Entrevista a Ana María Gorosito Kramer

domingo, 26 de junho de 2011

Crónicas de la Tierra sin Mal: Mapa Guaraní Retã

Crónicas de la Tierra sin Mal: Mapa Guaraní Retã: "Por primera vez en la historia un mapa transfronterizo da visibilidad cartográfica a las Comunidades Guaraníes, en el lugar exacto donde viv..."

Crónicas de la Tierra sin Mal: AYVU RAPYTA Textos Míticos de los Mbyá-Guaraníes d...

Crónicas de la Tierra sin Mal: AYVU RAPYTA Textos Míticos de los Mbyá-Guaraníes d...: "Cuando en el año 1.946 las hoy amarillentas páginas de la Revista de la Sociedad Científica del Paraguay (VII, 1: 15-47) y, en impresión ..."

Crónicas de la Tierra sin Mal: 19 de Abril - Día del Aborigen Americano

Crónicas de la Tierra sin Mal: 19 de Abril - Día del Aborigen Americano: "En la República Argentina viven más de 20 Pueblos Indígenas, cada uno con su cultura y modo de ver la vida que los hace únicos frente a lo..."

Crónicas de la Tierra sin Mal: Carta del Jefe Indio Seattle

Crónicas de la Tierra sin Mal: Carta del Jefe Indio Seattle: "El siguiente documento es uno de los más preciados por los ecologistas, se trata de la carta que envió en 1855 el jefe indio Seattle de la t..."

'Alberto da Costa e Silva fala sobre relançamento de livro no Programa do Jô'

http://historica.me/video/video/show?id=3692464%3AVideo%3A55564

Red de Educación Superior Indígena de Misiones: Bicicletas de Nhanderu

Red de Educación Superior Indígena de Misiones: Bicicletas de Nhanderu: "El documental 'Bicicletas de Nhanderu', dirigido por Ariel Ortega y Patricia Ferreira de la Comunidad Mbya Guarani Koenju - RS, ha recibido ..."

Crónicas de la Tierra sin Mal: El alfabeto Mbya Guaraní

Crónicas de la Tierra sin Mal: El alfabeto Mbya Guaraní: "La grafía de la lengua mbya guaraní es muy similar a la de la lengua española, por la simple razón que se la ha desarrollado en función a el..."

domingo, 19 de junho de 2011

Índios do Rio Grande do Sul e Greenpeace se destac...

Clica em Cinema: Índios do Rio Grande do Sul e Greenpeace se destac...: "Por Anna Beatriz Lisbôa, enviada especial Bicicletas de Nhanderu é o segundo documentário de Ariel Ortega (Foto: Aline Arruda/divulgação..."

Bicicletas de Nhanderu é o vencedor do 13º Fica

Bicicletas de Nhanderu é o vencedor do 13º Fica

FICA 2011 - Trailer Bicicletas de Nhanderú

http://www.fica.art.br/noticias/imersao-no-cotidiano-e-na-espiritualidade-dos-mbya-guarani-da-aldeia-koenju-ganha-xiii-fica/#comments


http://www.fica.art.br/gallery/premiacao-do-xiii-fica/cerimonia-de-premiacao-xiii-fica-260.jpg


I+D en cultura

terça-feira, 26 de abril de 2011

Encontro Nacional dos Povos Indígenas em defesa da Terra e da Vida



Discussões terão como eixo a luta pela reconquista dos territórios e contra o processo de criminalização de lideranças, assim como o enfrentamento aos empreendimentos que impactam terras indígenas



Entre os dias 29 de abril e 1º de maio, o Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), recebe o Encontro Nacional dos Povos Indígenas em Defesa da Terra e da Vida.  O evento tem como lema Vida e Liberdade para os povos indígenas – Povos Indígenas construindo o Bem Viver. Sob a organização do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o encontro contará com a presença de cerca de 180 lideranças indígenas, de missionários e de parceiros da entidade.

Durante os três dias do encontro, os participantes nortearão suas discussões com base em três grandes eixos: luta pela reconquista e garantia dos territórios; luta contra o processo de criminalização das e lutas e das lideranças; e enfrentamento aos grandes projetos que afetam as comunidades.

Por isso, o encontro tem por objetivo, aprofundar em nível nacional essas questões, bem como buscar soluções conjuntas para o enfrentamento destes desafios e propor uma articulação e unificação das lutas dos povos indígenas pela demarcação de seus territórios tradicionais e contra o crescente processo de criminalização das lutas e lideranças indígenas.



Serviço:

Encontro Nacional dos Povos Indígenas em Defesa da Terra e da Vida

Quando: de 29 de abril à 1º de maio, a partir das 8h

Onde: Centro de Formação Vicente Cañas, Luziânia (GO)

Informações: Cleymenne Cerqueira – (61) 2106-1667/9979-7059




Cleymenne Cerqueira
Cimi - Assessora de Comunicação
Tel: (61) 2106-1667
Email: imprensa@cimi.org.br
Site: www.cimi.org.br

www.twitter.com/CimiNacional
www.twitter.com/PareBeloMonte
www.twitter.com/StopBeloMonte

segunda-feira, 25 de abril de 2011

PALESTRA COM STEPHEN BAINES NA UFG


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

CONVITE – PALESTRA:

Os impactos de grandes projetos hidrelétricos e de mineração em povos indígenas”

Prof. Dr. Stephen Grant Baines

Stephen Grant Baines é antropólogo e professor da Universidade de Brasília - UnB. Pesquisador 1A do CNPq, publicou 61 artigos em periódicos especializados e 64 trabalhos em anais de eventos. Possui 17 capítulos de livros, 1 livro publicado e 2 livros co-organizados com Prof. Roberto Cardoso de Oliveira, e com Prof. Leandro Mendes Rocha. Atua na área de Etnologia Indígena e realizou pesquisas etnográficas com os Waimiri-Atroari (1982-1985), com os Makuxi e os Wapichana na fronteira Brasil-Guiana (desde 2001) e com os Tremembé no litoral do Ceará desde 2000. É integrante do projeto de pesquisa "Criminalização e Situação Prisional de Índios no Brasil" (ABA/ESMPU) em que coordena a pesquisa sobre "Situação Prisional de Índios em Roraima".

Data: 25 de abril de 2011.
Horário: 19:30horas.
Local: Mini auditório – Sirlene Duarte – UFG/Catalão

sábado, 23 de abril de 2011

EVENTOS CIENTÍFICOS

EVENTOS CIENTÍFICOS

X Congreso Argentino de Antropología Social: "La antropología interpelada: nuevas configuraciones político-culturales en América Latina"
Data:  22 a 25 de novembre de 2011
Local: Faculdade de Filosofia e Letras- Universidad de Buenos Aires
Informações: www.xcaas.org.ar
___________________

35º Encontro Anual da ANPOCS
Data: 24 a 28 de outubro de 2011
Local: Caxambu/MG
Informações: http://www.anpocs.org.br/portal/content/view/966/1/
___________________

III Reunião Equatorial de Antropologia (REA) - XII Encontro dos Antropólogos do Norte e Nordeste (ABANNE)

Data: 14 a 17 de agosto de 2011
Local: Boa Vista/RR
Informações: www.ufrr.br/rea2011 / Edital de Convocação para Propostas / Projeto 
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XI Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais
Data: 07 a 10 de agosto de 2011
Local: Universidade Federal da Bahia
Informações: www.conlab.ufba.br / conlab@ufba.br
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XV Congresso Brasileiro de Sociologia
Data: 26 a 29 de julho de 2011
Local: Curitiba/PR
Informações: www.sbsociologia.com.br  
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63ª Reunião Anual da SBPC
Data: 10 a 15 de julho de 2011
Local: UFG, Goiânia/GO
Informações: http://www.sbpcnet.org.br/goiania/home/ 
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IX Reunião de Antropologia do Mercosul: Culturas, Encuentros y Desigualdades

Data: 10 a 13 de julho de 2011
Local: UFPR – Curitiba/PR
Informações: www.ram2011.org / ram@ram2011.org
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IV Colóquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades

Data: 19 a 21 de mayo de 2011
Local: Montevideo, Uruguay
Informações: http://www.coloquiomasculinidades.org/
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X Semana Cultural de la Diversidad Sexual. Por una niñez y adolescencia libre de todo tipo de violencia!

Data: 2 al 6 de mayo de 2011
Local: Pachuca, Hidalgo, México
Informações:  www.eme.cl ou aqui.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Xondaro

NANA PARA UN NIÑO INDÍGENA - Ismael Serrano (Voz femenina: María Bozzini)

Cimi - Artigo de Maurício Guarani sobre o Dia do Índio

Segue abaixo artigo assinado pela liderança Guarani, do Rio Grande do Sul, Maurício da Silva Gonçalves.
 
No texto, Maurício faz uma reflexão sobre a realidade em que vive o povo Guarani no estado e sua luta pela defesa da vida e posse de suas terras tradicionais.
 

No 19 de abril, dia do índio, uma reflexão sobre a realidade Guarani no Rio Grande do Sul: em luta pela defesa da vida e do território!  
Sou filho de um povo milenar. Muito antes dos europeus chegarem nestas terras o meu povo vivia com alegria e esperança dentro de um amplo território. Nele existia a dignidade. Nele se alimentava os sonhos, a relação com Deus nos cultos e ritos de uma religião que o meu povo tinha naturalmente. Nele se plantava e colhia o alimento. A vida era cultivada na harmonia e na reciprocidade. 
Mas, repentinamente, os nossos antepassados se depararam com o inevitável. A civilização branca invadiu as terras, as vidas, as tradições, a cultura e a religião. Contra nossa gente iniciaram grandes batalhas. A ideologia de outro mundo foi sendo imposta para dominar e destruir o modo de ser, pensar e de se relacionar com a natureza, com a terra e com toda a vida que vigorosamente se fazia presente. Os nossos ancestrais e a natureza eram partes inseparáveis, a natureza cuidava e alimentava a nossa gente e nossos povos a ela protegiam e a tratavam com amor e respeito.
A partir de então o mundo mudou. Sobre meu povo desceu a ruína. A terra foi tomada, as pessoas eram caçadas e tratadas como animais. Foram escravizados, torturados e o modo de ser e de pensar Guarani foi atacado pela intolerância e imposição de outro modelo de civilização e cultura. Fomos proibidos de falar nossa língua. Tudo aquilo que era vida e reciprocidade se tornou pecado. A fé em Nhanderu foi transformada em feitiçaria. As crenças milenares ensinadas e vivenciadas foram atacadas por uma cruz que não era a cruz de nosso povo. O espírito Guarani, a alma Guarani foi rasgada por esta cruz. E os corpos, a vida física, por sua vez, eram cortados pela espada que acompanhava a cruz.
E assim, depois de milhares de anos, foi afetada tragicamente uma história que poderia ser um sinal de esperança para uma humanidade que vive uma profunda crise. A civilização branca vem construindo a sua própria destruição, a sua própria ruína. Esse é o saldo para toda a humanidade.
Apesar de vivermos num vasto continente, só nos sobrou pequenas parcelas de terras na Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil. Somos quase três centenas de milhares de pessoas do Povo Guarani Mbya, Nhendewa, Kaiowá. Cultivamos com sabedoria e paciência a nossa cultura. Não negamos o modo de ser e de pensar de nossos antepassados. Os seus ensinamentos nos acompanham no nosso constante caminhar. Mantemos viva a nossa língua Guarani, cultuamos nossa crença em Nhanderu. Acreditamos nas palavras das pessoas e confiamos nelas, porque é assim que se deve ser na vida.
Nós acreditamos que Nhanderu entregou a terra para ser cuidada e partilhada. Ela é nossa e dos demais seres viventes. Por isso, procuramos, ao longo dos anos, zelar por ela. O homem dito civilizado jamais poderá atribuir aos Guarani a devastação e o desrespeito que a terra enfrenta. Valorizamos a terra como parte de nosso corpo. Se cortarmos uma mão, arrancamos um membro importante do corpo. E assim é com a terra para os Guarani, não admitimos que ela venha a ser maltratada, rasgada, destruída.
Mas ao olharmos para o nosso planeta, em especial para o Brasil, a gente vê a terra sofrendo. Suas matas foram cortadas e no seu lugar construíram cidades, indústrias, grandes plantações. Os rios foram transformados em depósitos de dejetos de fábricas, de lavouras. Os rios estão morrendo porque as suas águas correm poluídas, contaminadas. Do pouco que ainda restou querem represar através de grandes e pequenas barragens. Querem, com isso, gerar mais energia para novas indústrias. E com as novas indústrias teremos ainda mais dejetos, mais poluição e a vida do planeta, a vida no Brasil, vai se acabando.
Durante as nossas reuniões, de lideranças das comunidades Guarani, os nossos Karaí sempre perguntam: “Até onde os Juruá (homem branco) pensam que podem ir? Será que eles não sabem que estão acabando com a terra, com a vida? Será que eles não percebem que a natureza precisa ser bem cuidada?” Eles não entendem como podem desprezar a vida só pela ambição de ter mais dinheiro e mais poder. Para os nossos líderes religiosos a vida é simples. Eles, na sua humildade e sabedoria, têm a certeza de que não é do muito que se tem, não são as riquezas materiais que darão alegria e esperança para os homens e mulheres. Eles afirmam com convicção de que se a terra estiver viva, protegida e valorizada, todos terão exatamente aquilo que necessitam para viver.
E nesta concepção, no modo de pensar a terra e os seus bens, é que habita a grande diferença entre os povos indígenas e a civilização branca. Para os Juruá somente tem sentido viver com dinheiro, muitas posses, muitas riquezas. No entanto, para eles, o custo da riqueza acumulada não entra na conta, ou como muito se fala entre os brancos, não é contabilizada. De tudo o que se extrai da terra há custos e muitos deles são impagáveis com dinheiro e poder. A devastação alucinada da terra compromete o restante da vida dos demais filhos da terra. Estão matando a própria mãe em função da ganância.
Apesar de uma história de sofrimentos somos um povo de resistência. Resistimos à colonização opressora. Resistimos e enfrentamos esta civilização que domina o nosso Brasil. Tornaram-nos minorias onde éramos a maioria. Queriam, naquela época, mudar nossa alma, porque acreditavam, os ditos civilizados, que a nossa alma era pagã, impura, pecadora. Não nos aceitavam como gente. E a isso resistimos. Muitos dos líderes assumiram a defesa do povo, da terra e das nossas tradições. Enfrentaram as espadas, os canhões dos civilizados.
Nós resistimos ao modelo de dominação dos brancos e nos colocamos contra as suas estruturas de poder e de fazer política. Acreditamos na nossa força e na nossa cultura, por isso resistimos aos massacres, à catequização forçada, à escravização de nossos antepassados, às guerras contra nosso povo, que foram impostas porque queríamos viver em paz nas nossas terras. Resistimos e vivemos construindo história, embora esta seja negada por aqueles que fazem livros.
A cultura dos brancos, dos chamamos Juruá, de fato não serve como modelo para o mundo de ninguém. A mãe terra está sendo consumida pela fumaça das usinas, dos carros. Está sendo contaminada com os venenos de fábricas e plantações. Está sendo tratada como mercadoria para ser consumida e depois não restará nada dela. Por tudo isso os Guarani lutam por uma terra sem mal, onde não existirão nem maiores e nem menores, onde todos seremos filhos da mesma terra mãe. 
Hoje em dia, para as nossas famílias viverem, o governo vem destinando alguns metros de terra, que na maioria das vezes são devolutas, nas margens de estradas, sobre barrancos, na beira de sangas poluídas e/ou em pequenas capoeiras próximas de grandes fazendas. Por nos tratarem como restos nos destinam as pequenas sobras de terras que pelos brancos são desprezadas. E não raras vezes dizem que somos preguiçosos, que não queremos trabalhar e que vivemos como bichos. Mas quando decidimos retomar terras que são nossas, se reivindicamos direitos, se exigimos do poder público que nos respeite e demarque nossas terras então somos tratados com arrogância e dizem que somos manipulados por terceiros.
Mas é neste contexto, onde as visões de mundo são diferentes, que nós os Guarani e os demais povos indígenas lutamos por direito e dignidade. Lutamos por respeito à cultura, à terra e ao futuro. Nós ainda acreditamos que é possível reverter esta realidade. E os nossos líderes religiosos sempre dizem que, embora os Juruá insistam em destruir a terra, ela existirá enquanto os Guarani existirem. Destruindo os Guarani, destruirão a última esperança de vida no planeta. Faço essa referência sobre os líderes do meu povo, mas já ouvi outros líderes indígenas, como o Davi Yanomami, falar a mesma coisa, ou seja, se destruírem os filhos da terra, destruirão em definitivo a terra inteira.      
Nosso povo luta e continuará a lutar pela terra. De nosso modo, com paciência, mas com a força sagrada de nossos velhos, nossos Karaí, as Kunhã Karaí, que nos ensinam a viver, nos aconselham a sermos bons com todas as pessoas, a tratar todos com igualdade. E seguiremos, andando, procurando por nossa terra, construindo nosso bem viver e exigindo das autoridades que cumpram com seu dever de demarcar as terras que as leis dos brancos, escritas pelos brancos, determinam que esse nosso direito deve ser assegurado.
Aproveito a oportunidade para apresentar as reivindicações dos Guarani, na expectativa de que elas sejam devidamente atendidas, uma vez que aqui nesta audiência se encontram representantes dos governos estadual e federal:
Que o governo federal, em articulação com o governo do estado do Rio Grande do Sul, busque resolver um dos graves problemas que impede a ocupação e o usufruto de nossas terras, aquelas já demarcadas, que são os pagamentos das indenizações aos ocupantes não indígenas de nossas terras. Esta é uma obrigação da Funai, pois cabe a ela buscar soluções para as questões relativas aos problemas fundiários. Pedimos, mais uma vez, entendimentos entre os governos federal e estadual no que se refere ao pagamento dos não-indígenas pelas terras que no passado foram loteadas e tituladas pelo governo do Estado e que estão sendo demarcadas como terras indígenas. Com isso, se pode acelerar os processos e diminuir os conflitos. Segue relação das terras prioritárias:
Cantagalo
O Cantagalo é uma das aldeias mais antigas no estado. Os estudos já foram concluídos, tudo já foi feito, mas os colonos ainda estão lá. Não aceitamos mais a demora na retirada dos ocupantes brancos. Já se passam anos da decisão da homologação da terra, mas até agora a Funai não pagou as indenizações e nem procedeu a retirada dos brancos da terra indígena. Além da demora na demarcação, as cercas estão abertas, e os animais dos vizinhos entram na terra e comem as plantações da comunidade indígena. A comunidade está muito desanimada com a demora.
Todas as nossas comunidades têm muita preocupação por causa das incertezas quanto ao futuro, principalmente porque não temos terra para plantar e dela extrair o sustento. No nosso modo de pensar e viver é bem diferente dos Juruá. Nós sempre procuramos o bem viver, viver tranqüilo, plantar para o consumo das famílias. Os juruá querem plantar para vender, usam a terra como mercadoria e não pra vida.
Mato Preto
Solicitamos à FUNAI que assegure o direito a terra tradicional, garantindo a continuidade do procedimento demarcatório uma vez que o relatório de identificação da área foi publicado. É necessário agilidade na análise das contestações apresentadas como resultado do direito ao contraditório das partes interessadas. A comunidade aguarda com expectativa a publicação da portaria declaratória da área.
Irapuã
Agora que finalmente saiu a publicação de identificação e delimitação da área, solicitamos rapidez nos demais passos do procedimento demarcatório, principalmente para que se possa estruturar comunidade e construir as casas longe da beira da estrada.
Estrela Velha
O GT é do início de 2008 e ainda não foi concluído. A TI Kaguy Poty é uma das áreas mais tranqüilas para os estudos e conclusão do procedimento de demarcação no estado, pois os não-indígenas têm vontade de sair. Por causa da demora do GT, estão começando a mudar de idéia, e conflitos podem ocorrer. Exigimos que os responsáveis pelos estudos de identificação e delimitação sejam cobrados pela FUNAI para apresentar imediatamente o relatório dos estudos de forma definitiva. 
Capivari, Lomba do Pinheiro, Estiva e Lami
Para estas antigas terras guarani houve o compromisso da Funai de que o Gt seria constituído ainda no governo passado. A Funai não cumpriu com seu compromisso. São situações difíceis, em função de nas áreas viverem muitas famílias, que aguardam com ansiedade pelos encaminhamentos da Funai. Exigimos que o prometido seja cumprido, e essas terras sejam contempladas  e demarcadas com a criação de GT`s. ESSA É A PRIORIDADE PARA 2011.
Itapuã, Ponta da Formiga, Morro do Coco, Arroio do Conde, Petim e Passo Grande
Estas terras estão tiveram os estudos de identificação e delimitação realizados nos anos 2008 e 2009. O relatório foi concluído e entregue para a Funai. Exigimos que o órgão indigenista proceda a análise e publique o referido estudo. Vale ressaltar que as comunidades vivem em pequenas áreas e aguardam pelo efetivo reconhecimento de suas terras.
Coxilha da Cruz
Aguardamos a solução para a completa regularização do Tekoá Porã, desapropriada pelo governo estadual em 2000, mas até hoje aguardando a finalização das indenizações. O governo estadual não cumpriu com o protocolo de intenções para terminar o pagamento. Atualmente a comunidade ocupa apenas a metade da área desapropriada.
Mata São Lourenço e Esquina Ezequiel
A Mata São Lourenço é uma das poucas áreas com matas boas na região das Missões. A FUNAI deve encaminhar um GT, antes que essa mata seja devastada para dar lugar a monocultura da soja. A Esquina Ezequiel, nas margens do Arroio Piratini, deve estar junto com o GT da Mata São Lourenço, pois também é uma área importante para a formação de aldeia na região das Missões.
Acampamento de Santa Maria 
A situação das famílias acampadas no município de Santa Maria necessita de atenção da FUNAI. Estão numa pequena faixa de terra na beira da estrada, e correm riscos quando vão buscar água e comercializar seus produtos. Aguardam por uma solução para melhorar as condições de vida da comunidade. A comunidade reivindica que a Funai proceda aos estudos de uma área para o assentamento das famílias. 
Águas Brancas
Exige-se que a Funai conclua o procedimento de demarcação da TI Águas Brancas, pois a portaria declaratória desta área foi publicada há mais de uma década. 
Diante de nossas reivindicações, que são legítimas, cabe ao governo respeitar a Constituição Federal demarcando as nossas terras tradicionais. Exigimos também que cumpra com as normas e convenções internacionais, especialmente a Convenção 169 da OIT, sobre questões que nos afetam, como tem sido os empreendimentos de duplicações de estradas e barragens que cortam e inundam as nossas terras.
Reivindicamos também que as políticas de assistência sejam efetivamente executadas, tendo em conta as nossas necessidades, direitos e as diferenças.
Quero, por fim agradecer a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que ao longo dos últimos anos, vem prestando importante contribuição no debate e na divulgação sobre a questão indígena e em especial agradeço pela postura que assumem em defesa dos direitos humanos, em defesa de nossos direitos.
Desejamos contar com os movimentos sociais, populares, entidades e outros tantos segmentos que se interessam pela questão indígena, não para que tenham um olhar de caridade ou piedade, em apoio à nossa luta, mas que estejam conosco pela causa indígena, que hoje é também uma causa da humanidade. Uma humanidade em crise e que precisa urgentemente de todos aqueles que desejam construir outro mundo, diferente deste que está em decadência. Um mundo do Bem Viver.

Porto Alegre, RS, 19 de abril de 2011.
Maurício da Silva Gonçalves Guarani
Coordenador do CAPG - Conselho de Articulação do Povo Guarani no RS

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Documento Final: Encontro de Lideranças Guarani e do Conselho de Articulação do Povo Guarani no Rio Grande do Sul

As lideranças de 23 aldeias Guarani do Rio Grande do Sul se reuniram juntamente com o Conselho de Articulação do Povo Guarani – CAPG/RS, nos dias 4 a 7 de fevereiro de 2011, no município de São Gabriel. Nesta data nós lembramos o massacre de milhares de nossos parentes e da morte Sepé Tiaraju praticados por soldados espanhóis e portugueses, no ano de 1756. Lá nossos Karaí e Kunhã karaí (líderes religiosos) rezaram a Ñhanderu pelos parentes que morreram lutando por nossa terra.
No encontro discutimos várias questões que preocupam nossas comunidades, como a demarcação de nossas terras, as mudanças na gestão do atendimento à saúde indígena, a reestruturação da FUNAI, os impactos de grandes empreendimentos sobre nossas terras e comunidades a exemplo das duplicações das BRs 116 e 290, a educação diferenciada em nossas aldeias, e as políticas de apoio à agricultura e sustentabilidade às nossas famílias.
Em todas estas questões, após avaliarmos a situação de nossas aldeias, sentimos que ainda falta muito para garantir nossos direitos definidos pela Constituição Federal, pelos tratados internacionais e leis direcionadas aos povos indígenas. O principal atraso continua sendo a demarcação de nossas terras. Vivenciamos desde processos já concluídos no papel, mas que as aldeias continuam com problemas porque a Funai não retira os ocupantes das nossas terras, até realidades em que as famílias estão em situações muito precárias, obrigadas a morar em barracos de lonas, acampadas em beira de estradas. E, além disso, sempre somos ameaçados de despejo por empreendimentos de desenvolvimento da economia não indígena. Isso tudo porque o governo não demarca as nossas terras.
E isso tudo acontece para nosso povo que antes tinha um grande território, mas que foi transformado em cidades e nos estados das regiões sul, sudeste e centro oeste do Brasil, e nos países da Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai. Dividiram o território e dele nos expulsaram. Hoje estamos apertados pelas cidades e fazendas em todos os lugares. Essa situação nos causa muita tristeza.
Estamos cansados de viver na beira das estradas. Estamos cansados de ver nossas crianças, nossas mulheres, nossos velhos arriscarem a vida para buscar água, para lavar roupa, para vender o artesanato nos acostamentos das rodovias. Estamos cansados de viver sem a nossa terra. Exigimos respeito. Dissemos isso aos representantes da Funai, da Funasa e da Secretaria da Atenção Especial à Saúde.
Em resumo, necessitamos e exigimos rapidez no reconhecimento e demarcação de nossas terras e no atendimento de políticas diferenciadas em saúde, educação. Exigimos também que as propostas que pretendem elaborar, sobre as políticas para o nosso povo, sejam, antes de tudo, discutidas com nossas comunidades e lideranças. Não vamos mais aceitar e esperar calados, porque é nosso direito participar das decisões que nos dizem respeito.
Apesar de tudo isso, temos esperanças que os não indígenas reconheçam a gravidade de nossos problemas e os poderes públicos cumpram com suas responsabilidades. Nossos Karaí e as nossas Kunhã Karaí nos alertam e nos orientam para que a gente se articule cada vez mais e cobre das autoridades que as leis, que os brancos criaram, sejam respeitadas e cumpridas.
São Gabriel, 7 de fevereiro de 2011.